No Alasca, Trump e Putin não chegam a acordo sobre guerra na Ucrânia; reunião ocorreu sem presença de Zelensky
15/08/2025
(Foto: Reprodução) Trump e Putin se encontram no Alasca, mas reunião termina sem acordo sobre a guerra na Ucrânia
Donald Trump se encontrou nesta sexta-feira (15) com o presidente russo, Vladimir Putin. A reunião, realizada no Alasca, deixou o mundo na expectativa de um anúncio de cessar-fogo na guerra da Ucrânia, conflito iniciado pela Rússia há mais de três anos. Mas não houve acordo.
Putin embarcou de volta para Moscou sem qualquer anúncio concreto. Os dois líderes fizeram discursos vagos e não deram informações sobre o conteúdo da conversa.
Quebrando o protocolo, quem falou primeiro foi o visitante, Vladimir Putin. O discurso exaltava Trump: disse que o saudou como um bom vizinho, que estava feliz em vê-lo vivo e que, se o republicano estivesse no poder em 2022, a guerra na Ucrânia não teria acontecido. Declarou ainda que houve muitos avanços no encontro e que espera que Volodymyr Zelensky não seja um obstáculo para a paz.
Trump afirmou que não há acordo “enquanto não houver um acordo”, reforçando que ainda faltam detalhes a serem acertados. Disse que o próximo passo será ligar para Zelensky e para membros da OTAN. Reconheceu “grande progresso” na reunião, mas não deu detalhes e acrescentou que ele e Putin precisam se encontrar novamente em breve.
Ao final do encontro, Putin brincou que a próxima reunião deveria ser em Moscou. Trump respondeu que “poderia ver isso acontecendo”.
A vitória simbólica ficou com Putin, que conseguiu interlocução mais direta com o presidente americano do que o próprio Zelensky e até do que aliados históricos dos Estados Unidos na Europa. A imagem que corre o mundo mostra o líder russo, acusado de crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional, com o dedo em riste, diante de um Trump sorridente, como quem reencontra um velho amigo. O gesto marca o fim do isolamento imposto pelo Ocidente à Rússia desde 2022 e o início de um novo capítulo da disputa geopolítica.
Antes de chegar ao Alasca, Putin fez escala em Magadan, cidade portuária russa, onde visitou uma fábrica, um complexo esportivo e depositou flores em um memorial em homenagem à cooperação entre americanos e soviéticos na Segunda Guerra Mundial.
Na quinta-feira, o chanceler russo, Sergei Lavrov, desembarcou em Anchorage vestindo um casaco com as letras “CCCP”, sigla da antiga União Soviética em cirílico. O bloco foi desmembrado em 1991 em 15 países, entre eles Rússia e Ucrânia. Putin costuma chamar esse evento de “a maior catástrofe geopolítica do século”.
O presidente ucraniano, que não foi convidado para o encontro, escreveu em uma rede social que esperava que a reunião abrisse caminho para uma negociação substancial entre Rússia, Estados Unidos e Ucrânia. Mais tarde, Zelensky divulgou um vídeo denunciando bombardeios russos em várias cidades no mesmo dia das negociações.
“Os ataques continuam e não há nenhum sinal de que Moscou esteja se preparando para encerrar a guerra. No dia de negociações, eles também matam pessoas. Isso diz muito”, afirmou. Ele disse ainda esperar uma posição firme dos Estados Unidos.
Trump saiu de Washington com uma hora de atraso, às 8h da manhã, pelo horário local, 9h em Brasília. Durante o voo, declarou que buscava um cessar-fogo. “A Europa não vai me dizer o que fazer, mas estará envolvida no processo, assim como Zelensky. Não sei o que vai acontecer hoje, mas não vou ficar feliz se não houver cessar-fogo”, disse.
Ele afirmou também que o destino dos territórios ocupados pela Rússia cabe à Ucrânia decidir. Avaliou os ataques do dia como uma tentativa de Putin de ganhar vantagem, mas alertou: “isso só vai prejudicá-lo”.
No avião, Trump escreveu em uma rede social que havia tido uma ótima conversa por telefone com o presidente de Belarus, Aleksander Lukashenko, aliado de longa data de Putin.
Trump chegou ao Alasca às 10h20, no horário local, 15h20 em Brasília. Pouco depois, a Casa Branca informou que a reunião não seria restrita aos dois presidentes.
Do lado americano participaram o secretário de Estado, Marco Rubio, e o enviado especial Steve Witkoff, empresário do ramo imobiliário e amigo pessoal de Trump desde os anos 1990. Witkoff, sem experiência diplomática até ser nomeado pelo republicano em seu segundo mandato, foi responsável por missões no Oriente Médio e depois nas negociações de paz com a Rússia. É visto pelos críticos como inexperiente, mas por Trump como alguém de fora da política, focado em soluções.
Do lado russo estavam o chanceler Sergei Lavrov e Yuri Ushakov, ex-embaixador em Washington e conselheiro próximo de Putin, ambos com mais de 20 anos de experiência no governo.
Trump esperou dentro do Air Force One pela chegada de Putin, que pousou meia hora depois. Vinte minutos mais tarde, ambos desceram de seus aviões. O anfitrião chegou primeiro ao tapete vermelho. Putin o cumprimentou com um aperto de mãos.
Enquanto um bombardeiro americano sobrevoava a base, jornalistas gritaram perguntas. Uma repórter questionou se Putin iria parar de matar civis. O presidente russo sorriu e apontou para a orelha, como se não tivesse escutado.
Os dois seguiram até o carro presidencial americano, conhecido como “A Besta”, e embarcaram sozinhos, sem intérpretes. Putin fala inglês suficiente para manter uma conversa, o que aumenta o mistério sobre o que foi dito fora dos registros oficiais.
O simples encontro no Alasca já é considerado uma vitória para Putin, que volta a ter interlocução direta com o presidente americano em um palco global. Depois de Zelensky ser desmoralizado em Washington, a recepção com honrarias promete inaugurar um novo alinhamento de potências.
Trump e Putin se encontram no Alasca, mas reunião termina sem acordo sobre a guerra na Ucrânia
Reprodução/TV Globo
